quarta-feira, 22 de julho de 2009

Indian Motorcycle está de volta

Mais antiga que a Harley-Davidson, Indian Motorcycle está de volta ao mercado norte-americano com o lendário modelo Chief
Texto: Bruno Parisi/InfoMoto
Fotos: Divulgação



Quem freqüenta encontros de motos clássicas já ouviu falar na marca de norte-americana de motos Indian, mas poucas e raras unidades são vistas rodando no Brasil. Já nos Estados Unidos, a Indian é tão famosa e lendária como a rival Harley-Davidson. Agora os fãs dessa centenária marca podem comemorar o retorno da fabricação deste sonho americano que começou em 1901. O curioso dessa história é que em 1906, a Indian foi equipada com o primeiro motor “V2” fabricado nos Estados Unidos. Muita gente acha que esta proeza é da Harley-Davidson. Mas contra fatos não há argumentos.



Em seu retorno ao mercado americano, já há oito pontos de venda até o momento espalhados pelos Estados Unidos e mais quatro a serem inaugurados, segundo o site da montadora. O modelo “ressucitado” pela Indian foi a Chief, criado em 1922. A versão atual mantém a tradição do motor de dois cilindros em “V” acionado por varetas, como nas Harleys.

Com visual no melhor estilo retrô, a Chief está disponível no mercado americano em quatro versões; cujas diferenças se baseiam em pneus com faixa branca, malas laterais, pára-lama dianteiro envolvente, entre outros itens. Porém, todas utilizam modernos freios da grife Brembo.

A motorização da nova Indian é um “V2” de 1720 cm³, que gera mais de 13 kgf.m de torque para empurrar os 350 quilos (em ordem de marcha) da versão Standard. A transmissão é feita por correia dentada, como manda o estilo custom.

Mais antiga que a Harley

A história da marca começa em 1901, quando o ciclista George Holder construiu uma espécie de bicicleta motorizada. Ao ver o experimento, o engenheiro Carl Oscar Hedstrom resolver se associar a Holder e, juntos, começaram a produzir motos.

Com o sucesso de vendas das primeiras unidades, os dois rapazes se empolgaram e seguiram adiante na fabricação de motocicletas. Além de disso, a Indian começa a participar de competições ao redor do mundo, incluindo a famosa Tourist Trophy, na ilha de Man, no Reino Unido. Na prova realizada em 1912, os três primeiros lugares foram ocupados por motocicletas Indian.







Tempos difíceis

No período da Primeira Guerra Mundial a empresa sofreu sérios problemas financeiros. A saída dos fundadores e o abandono das competições em 1916 também contribuíram para que a Indian chegasse perto da falência, mas as motocicletas da marca continuaram saindo da linha de produção.

Um de seus modelos consagrados nas pistas e também nas ruas foi a Scout. Criada em 1919, a motocicleta usava um motor “V2” com cilindradas que variavam entre 600 e 1200 cm³. Esta família se manteve em linha de produção por mais de dez anos.

Em 1927 surgiu uma nova motorização para as Indian: um motor de quatro cilindros em linha, montado longitudinalmente. Batizada de Indian Four, a moto utilizava propulsor de 1265 cm³. O modelo seguiu em produção até 1942.

Durante a primeira metade do século XX, a marca também serviu as autoridades. As motos Indian foram escolhidas para formar o primeiro batalhão policial de Nova Iorque em 1907 e nos anos de guerra foram produzidos modelos para uso militar e policial.

As décadas de 40 e 50 foram críticas para a Indian. As vendas começaram a despencar e a montadora foi obrigada a parar a produção de suas motocicletas em 1953.

As tentativas do retorno

Após muitas discussões sobre os direitos autorais da marca, algumas empresas reergueram o nome Indian em 1998. No ano seguinte foram iniciadas as vendas da Chief, mas devido à baixa procura pela motocicleta a marca fechou novamente as portas em 2003. O recente (e talvez último) retorno da Indian no mercado de duas rodas ocorreu no ano passado, após Steve Heese e Stephen Julius comprarem os direitos autorais e propriedades da marca. Com a mudança acionária, as motocicletas Indian saem da fábrica que fica em Kings Mountain, na Carolina do Norte, em vez da originária Springfield, em Massachusetts.

"Sem Destino", ícone da contracultura e da liberdade sobre rodas, completa 40 anos



Da Infomoto
"Um homem saiu em busca da América. Não a encontrou em lugar algum", dizia o poster do filme "Sem Destino" (Easy Rider). Em compensação, milhões de jovens de todo o mundo encontraram um ídolo, Peter Fonda, e a inspiração para sair em busca de seu próprio estilo de vida. Há 40 anos, em 14 de julho de 1969, jovens descalços e com roupas floridas aglomeravam-se na entrada do Teatro Beekman, em Nova York (EUA), para assistir à estreia do longa metragem em solo americano. Fonda, então com 29 anos, fazia o papel do hippie Wyatt. Ele e o companheiro Billy, vivido por Dennis Hopper, subiam em suas motocicletas e cruzavam os Estados Unidos. Fonda pilotou uma das mais famosas motos do cinema: a lendária Harley-Davidson FLH da Polícia transformada em uma chopper de garfo alongado e com a pintura da bandeira norte americana no tanque.
Com um roteiro despretensioso, "Sem Destino" contava a história dos dois hippies que, com o dinheiro de uma grande venda de cocaína, partiam da Califórnia em suas motos rumo à festa de Mardi Gras, o "carnaval" de Nova Orleans. No caminho, são presos e conhecem na cadeia o advogado alcoólatra George Hanson, atuação brilhante que rendeu a indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante para um Jack Nicholson em início de carreira.




CAUBÓIS MODERNOS
O escritor e crítico de cinema americano Lee Hill conta no livro "Sem Destino" (104 páginas, Editora Rocco) que Peter Fonda teve a idéia para o roteiro em 1967, após fumar um "baseado" e olhar a foto de "Os Anjos Selvagens" (The Wild Angels, 1966), que o mostrava junto a Bruce Dern em frente a duas motocicletas. Sob efeito da maconha, nasceu da cabeça do filho de Henry Fonda a ideia do filme, que mudaria Hollywood para sempre, sintetizando os medos e as esperanças dos anos 60. "Eu e Dern seremos os caubóis modernos", imaginou Fonda.

Com roteiro escrito em conjunto com Dennis Hopper e Terry Southern, "Sem Destino" foi filmado em apenas sete semanas com um orçamento de US$ 365 mil, modesto até para a época. Exibido pela primeira vez em Cannes em maio de 1969, o filme foi ovacionado em pé no Festival francês. Hopper, que dirigiu a produção, levou o prêmio de melhor diretor estreante.

"'Sem Destino' provou que era possível fazer bons filmes com baixos orçamentos. Foi um grande filme", relembra Renzo Querzoli, 57 anos, diretor de filmes publicitários e também do documentário "Alma Selvagem - Amor por Motocicletas" (2007). "Mas também foi muito mais que isso. O filme tratava de drogas, prostituição e outros temas que, se ainda são tabus até hoje, imagine naquele tempo", acrescenta Renzo, motociclista e que nos anos 60 já pilotava uma pequena Gilera de 175cc.

Professor de cinema da Universidade de Chicago, cineasta e crítico de renome, Roger Eberet compartilha da opinião. Tanto que coloca "Sem Destino" na lista dos Grandes Filmes, em seu site. "Algum dia seria inevitável surgir um grande filme sobre motocicletas da mesma forma que os grandes filmes de Velho Oeste fizeram todos perceber que eram uma legítima manifestação artística norte americana. 'Easy Rider' é esse filme", escreveu Ebert em sua crítica publicada em 1969.

A obra retratou os anseios de grande parte dos jovens americanos do final da década de 60. Lançado um ano depois da revolta estudantil em Paris, o filme marcava o auge da contra cultura, do Flower Power hippie, às vésperas do Festival de Woodstock, realizado em agosto daquele ano. Foi um sucesso de público. Faturou mais de US$ 60 milhões em todo o mundo. Além da indicação de Nicholson a melhor ator coadjuvante, "Sem Destino" concorreu ao Oscar de 1970 na categoria de melhor roteiro original.

LIBERDADE EM DUAS RODAS
"Sem Destino" não foi o primeiro filme em que as motocicletas tinham um papel importante. "O Selvagem" (The Wild One, 1953) com Marlon Brando fica com esse título. Mas além da efeméride de se tornar quarentão, o road movie de Fonda e Hopper é celebrado, pois contribuiu para tornar a motocicleta um ícone de liberdade. Na época, Peter Fonda declarou que seu personagem representava aqueles que acreditam que a liberdade pode ser conquistada, que acreditam na possibilidade de ser livre em cima de uma moto ou fumando um cigarro de maconha. Quem não se lembra da cena em que Wyatt (Fonda) joga fora seu relógio antes de pegar a estrada?


"Aquelas motos não existiam por aqui. Nunca tínhamos visto motos daquele jeito", relembra Querzoli. Tanto que no imaginário de muitos motociclistas as motos custom, no estilo da moto Capitão América, são a tradução do espírito livre em duas rodas. A própria Harley-Davidson usa o chavão em sua publicidade.



Dois exemplares da famosa chopper com a bandeira dos Estados Unidos no tanque foram usados em "Easy Rider". Uma delas foi queimada nas filmagens e a outra desapareceu misteriosamente do set. Para a felicidade dos fãs, uma réplica fiel foi construída na celebração dos 30 anos do longa com a ajuda de Peter Fonda, motociclista até hoje, e dos construtores do modelo original. Quem quiser ver ao vivo a moto mais famosa do cinema pode ir ao Harley-Davidson Museum, inaugurado em 2008 para celebrar os 105 anos da marca. Localizado em Milwaukee, o museu traz ainda a moto de Billy (Hopper). Ou se preferir passe na locadora mais próxima, alugue o DVD e celebre: "Sem Destino" agora é quarentão. (por Arthur Caldeira)